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Cosmocinema: Hélio Oiticica e Neville D'Almeida
Curadoria: Cesar Oiticica Filho e Gabriela Davies
Fotos Por: Cesar Oiticica Filho
Out - Dez 2020
Galeria Aymoré

A cinquenta anos atrás, um encontro entre duas pessoas culminou em uma das obras mais marcantes da história da arte. Neville d’Almeida e Hélio Oiticica se conheceram em Nova Iorque no ápice da ditadura militar no Brasil.

Nos anos subsequentes, surgiram as cinco experiências artísticas espaciais elaboradas por ambos, mundialmente conhecidas como Bloco-Experiências in Cosmococa: Programa in Process, ou simplesmente como Cosmococa. Cada uma foi concebida como uma sala imersiva que permite o espectador tomar seu próprio rumo, se entranhando e experimentando da forma que quiser: não há regras. Procure “não ater-se ao q se acha q deva ser e q não se quer fazer”, como explicou Hélio em suas anotações; este posicionamento mutuamente compartilhado com Neville abriu espaço para as inovadoras rupturas cinematográficas e artísticas das Cosmococas.

Os frames fotográficos que rodam pausadamente – estilo proveniente e adaptado do filme Mangue-Bangue – são ordenados para narrar o processo da intervenção sobre a imagem. O livro cuja capa é o famoso rosto de Marilyn Monroe inicia a projeção da Cosmococa 3: Maileryn, até que, subitamente, suas feições são desenhadas pelo pó branco entorpecente. Navalhas, facas e tesouras surgem em cena e redesenham o pigmento que risca a face da atriz, e, logo em seguida, começam a cortar a película que embrulha o livro. A música de Yma Sumac transborda a sala, atiçando o senso auditivo, com um tom sofisticadamente hipnotizante.

Não há um fim nem um começo, nem mesmo autor ou coautor. Hélio se torna Neville, e d’Almeida se torna Oiticica em uma fusão sinergética sensorial multidisciplinar. Duas pessoas que trazem consigo suas individualidades e semelhanças compartilhadas após muitas andanças, conversas e elaborações para dentro da obra. Duas partes do mesmo ser, permitindo um ao outro o poder de experimentação e quebra de censura não apenas política, mas também criativa e espiritual. Se permitir imergir dentro destes espaços é deixar quebrar barreiras de tempo, espaço, postura e lucidez.

As Cosmococas – aqui presente como Cosmococa 3 Privet, jamais exposta antes – e Cosmocinemas, assim como os filmes Mangue-Bangue e Navalha na Carne são projetadas de forma a englobar o espectador. Os espaços desta exposição foram pensados de forma onde a imersão total é necessária, tornando x espectadorx parte-obra, parte-criadorx. Não há critério do que se deve sentir e pensar, ou de como se deve portar.

A quase um ano atrás, o mundo começou a mudar de forma que jamais teríamos imaginado. Nos distanciamos uns dxs outrxs e nos isolamos para onde entendemos por seguros. O contato físico é mentalmente marginalizado como forma de preservar a saúde do próximo. Optamos por não gerar aglomerações durante a reabertura da Galeria Aymoré, mas resolvemos que era necessário abrir uma porta para um outro tempo, que não mais simples, mas aberto a concatenar outras soluções e pensamentos. Hélio e Neville nos trazem de volta a sensação de participar e agir em colaboração. Pensar em uma situação pandêmica pode ser também um olhar ao passado – um tempo que dialoga, político e socialmente, com o momento presente – permitindo uma abertura de um re-diálogo com o próximo e um deslocamento sensorial.

Gabriela Davies, 2020

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